Com a chegada dos leitores da Kobo e da Amazon ao mercado brasileiro, muita gente tem se perguntado qual o melhor deles, e se vale a pena pagar R$ 100 a mais pelo Kobo Touch, oferecido pela Livraria Cultura a R$ 399. O Kindle de 4ª geração está à venda nas lojas da Livraria da Vila e no site da Ponto Frio por R$ 299. Pode parecer uma questão simples, que exige apenas uma comparação técnica entre os dois aparelhos, mas isto está longe da realidade. O processo de compra de um Kobo ou Kindle passa, na verdade, por três decisões. Vamos a elas:
1. A decisão entre um leitor dedicado e um tablete multifuncional
Tanto a Kobo como a Amazon oferecem aplicativos de ponta para iOS e Android. Portanto, não é necessária a aquisição de um e-reader dedicado como o Kobo Touch ou o Kindle para se ter acesso ao catálogo de livros digitais à venda. Qualquer leitor pode comprar um livro na Amazon ou na Livraria Cultura e lê-lo em seu iPad, iPhone, tablet Android ou mesmo no computador. Quem preferir comprar na Google ou na Saraiva também poderá ler os livros em seus aplicativos para as mesmas plataformas. E, é claro, quem optar pela Apple, poderá ler sua biblioteca no iPad e no iPhone. Mas vale a pena adquirir um leitor dedicado? Esta é uma decisão que cabe a cada leitor ou consumidor. A s principais vantagens de um e-reader dedicado como o Kobo Touch ou o Kindle são as seguintes:
- Tela monocromática com tecnologia e-Ink, que não cansa a vista e permite leitura sob o sol, pois não possui luz própria.
- Formato menor e mais leve que um tablete.
- Permite uma leitura focada e tranquila sem as distrações dos tablets (veja este meu outro post)
- Preço inferior
A desvantagem é clara: o leitor dedicado não é um tablete e, portanto, se você precisa de um equipamento para checar e-mails, navegar na net, ouvir música e jogar Angry Birds, você vai acabar com dois apetrechos na bolsa ou na mochila – a não ser que você se satisfaça em fazer tudo isso no seu smartphone. Na prática, acredito que esta decisão depende do quanto a pessoa lê normalmente. Para quem lê um livro por ano, nunca valerá a pena ter um leitor dedicado. Mas quem lê quatro livros por mês com certeza vai preferir ter um Kobo Touch ou Kindle além do tablet.
Isto leva à seguinte questão: Até que ponto o Brasil possui leitores frequentes suficientes para que haja uma demanda relevante por leitores dedicados? Ainda é cedo para dizer, mas vamos descobrir em breve. Minha impressão é que o leitor dedicado terá muito mais uma função de marketing e promoção no Brasil, ao ocupar espaço nas mãos de formadores de opinião e nas livrarias, do que uma função crucial na expansão da leitura digital. Tendo a achar que os brasileiros, que já lêem tão pouco, vão preferir ler seus e-books nos tablets – entre uma partida e outra de Angry Birds.
2. A decisão entre uma plataforma aberta e uma plataforma proprietária
Os livros digitais da Amazon (chamados pela empresa de Kindle books) só podem ser lidos em Kindles ou nos aplicativos Kindles. Os aparelhos da gigante de Seattle, por sua vez, só conseguem ler e-books em Mobi, seu formato proprietário. Sim, é possível ler PDFs no Kindle, assim como tecnicamente é possível mascar chiclete e assobiar ao mesmo tempo. Tente e descubra. Se o e-book for em formato padrão ePub e não possuir DRM (a trava anti-cópia do e-book; clique aqui para entender o DRM), é possível convertê-lo facilmente ao formato Mobi e lê-lo no Kindle como qualquer livro comprado na Amazon. O software gratuito Calibre é a melhor opção para isso. No entanto, por hora, são raras as editoras comercializando livros digitais sem DRM. A Apple também possui formato proprietário e os livros comprados na iBookstore só podem ser lidos nos aparelhinhos piscantes da empresa de Cupertino. E-pubs sem DRM, no entanto, são lidos facilmente em seu aplicativo de leitura. Sem falar que qualquer e-bookstore que se preze possui apps de leitura para iOS. Já a Kobo, a Google, a Saraiva e demais varejistas de livros digitais, possuem uma plataforma aberta e não proprietária, utilizando um controle de DRM comum, fornecido pela Adobe. Com isso, um livro comprado em uma dessas livrarias pode geralmente ser lido nos aplicativos e e-readers da outra. Por exemplo, você pode comprar um livro na Saraiva ou na Gato Sabido e lê-lo em um Kobo Touch adquirido na Livraria Cultura. Os livros digitais comprados na Google Play também podem ser transferidos para o leitor da Kobo e vários outros, como o Nook da Barnes & Noble, por exemplo. E livros comprados em outras e-bookstores no exterior, como na excelente Bajalibros da Argentina também podem ser lidos nos aparelhos e apps de empresas que optaram por um modelo de negócios não proprietário.
A vantagem de uma plataforma aberta é óbvia: você não fica dependente de um livraria apenas. A desvantagem é que estes processos de comprar e-book aqui e ler ali consomem tempo e paciência, e nem sempre funcionam 100%. Já as plataformas proprietárias, por terem sido desenvolvidas com apenas um formato e um leitor e seus aplicativos em mente, costumam ser mais robustas e confiáveis. Além disso, no caso da Amazon, é importante lembrar que a conexão em 3G oferecida nos melhores modelos, que ainda não estão à venda no Brasil, funciona perfeitamente no mundo todo. Sem pagar roaming, você abaixa amostras ou compra livros em 60 segundos do Panamá à Alemanha (já testei nos dois países).
Mais uma vez, cabe aqui ao leitor decidir entre uma plataforma proprietária e uma aberta. Ou, caso já pretenda ter um tablet e um leitor dedicado, poderá optar por um e-reader proprietário e usar aplicativos de plataformas abertas com DRM da Adobe no seu iPad ou Samsung.
3. A decisão entre o Kobo Touch e o Kindle de 4ª geração
Ao se decidir pela compra de um dos dois leitores dedicados à venda no Brasil, a primeira coisa a se considerar, como já vimos, é que o Kindle possui uma plataforma proprietária e o Kobo não. Em seguida, deve se considerar o preço. A Livraria Cultura vende o Kobo Touch por R$ 399 e a Livraria da Vila e o site da Ponto Frio vendem o Kindle de 4ª geração por R$ 299. Por que a diferença de preço? Simples: o aparelho da Kobo possui tela touch screen, enquanto o Kindle oferecido no Brasil exige que o leitor pressione botões no melhor estilo BlackBerry para ler seus livros. Na minha opinião, portanto, considerando-se apenas as diferenças técnicas entre os dois aparelhos, vale a pena colocar a mão no bolso e, por R$ 100 a mais, levar um leitor com tela sensível ao toque.
No que se refere às telas, ambos os aparelhos são praticamente iguais, ambos usando tecnologia e-Ink. Em termos de processamento, o Kindle pode ser um pouco mais rápido, mas nada que faça diferença, a não ser que alguém queira usar o e-reader para treinar leitura dinâmica.
Mas a Amazon não se gaba de sua tecnologia? Como a Kobo poderia ser melhor? Mais uma resposta no estilo “Elementar, meu caro Watson”. Na verdade, a empresa de Bezos optou por oferecer o leitor mais barato que pudesse no mercado brasileiro e, para isso, trouxe seu leitor mais simples. Da mesma 4ª geração de leitores, a Amazon oferece aparelhos mais caros com 3G e touch screen nos EUA, mas preferiu não colocá-los à venda no Brasil ainda. Em entrevista ao PublishNews, no entanto, o executivo amazônico David Naggar garantiu que todos os aparelhos chegarão ao Brasil. Quando? “A Amazon não discute planos futuros”, seria a resposta padrão.
Hoje, o melhor modelo do Kindle é o Paperwhite, um aparelho com 25% a mais de contraste que os Kindles de 4ª geração, 3G gratuito e luz embutida para leitura no escuro. Este brinquedo sai por US$ 199 nos EUA (sem publicidade), enquanto o modelo igual ao Kindle da Vila custa US$ 89 (sem publicidade) ou US$ 69 (com publicidade). Aplicando-se uma simples regra de três, o modelo top da Amazon custaria R$ 669 no Brasil, bem acima do preço do Kobo Touch. Mais uma vez, o consumidor e leitor deve fazer sua opção aqui.
Mas para quem optar pela plataforma da Amazon e for comprar um Kindle, eu tenho um conselho: espere seu cunhado viajar para os EUA, compre o Paperwhite de última geração na Amazon com entrega no hotel, e peça para o dito cujo trazer o mesmo com a discrição que a alfândega brasileira exige. O conselho também se aplica no caso de tios, primos, irmãos, mães e avôs.
[Não deixe de ler o post Kobinho chega ao Brasil a R$ 289 com atualizações sobre os temas tratados aqui.]
Muito bom artigo. Me surgiu algumas dúvidas:
1) O livro baixado/comprado fica acessível?
2) Pode ser transferido para um HD externo ou outro dispositivo?
3) Se fica restrito ao dispositivo, por exemplo, se ele pifar, como recupero a biblioteca perdida?
Perdoe se não são questões deste tópico. Se for o caso, por favor poderia indicar o tópico?
Muito Obrigado!
Posted by: Alvaro Dias Batista | 04/03/2013 at 15:36
Outra pergunta: suporte a livros de referencia.
Tenho a primeira versão do kindle e ele tem um defeito crônico: Não se consegue avançar até determinada página e voltar, exceto indo página a página. Como leitura de livros de literatura, ok, pois é o processo natural, mas com livros de referencia de mil páginas a consulta fica impossível. Sabe se as novas gerações do kindle corrigiram isso e se o Kobo também resolve esta questão?
Grato pela atenção
Posted by: Alvaro Dias Batista | 04/03/2013 at 15:40
Lucio,
Não tenho muito conhecimento técnico de conversão, mas me parece não fazer muito sentido já que o ocnteúdo original nao tinha DRM. Talvez algum outro leitor possa responder.
Posted by: Carlo Carrenho | 08/03/2013 at 12:44
Para PDFs, acho que a leitura no tablet é sempre melhor. Como disse, ler PDF em um e-reader dedicado é como beijar embaixo d'água. Possível, é.
Posted by: Carlo Carrenho | 08/03/2013 at 12:46
1) Sim, ele fica dentro do leitor dedicado.
2) Pode ser transferido para o HD. Os arquivos da Amazon só poderão ser lidos no aparelho original da compra. Se você quebrar o DRM, poderá transferi-los a outros Kindles, mas só a eles. Os arquivos ePub da Kobo usam DRM da Adobe e podem ser transferidos para qualquer outro leitor que use este sistema de DRM.
3) Em ambos os casos, a biblioteca também está na nuvem e os arquivos podem ser baixados de novo a qualquer momento.
Posted by: Carlo Carrenho | 08/03/2013 at 12:50
Você tem um Kindle priemira geração? Aquele primeirão mesmo que a Amazon só fez alguns? Que legal!
Nos leitores atuais há uma página de conteúdo (índice) e vc pode se deslocar para páginas ou trechos específicos diretamente.
Posted by: Carlo Carrenho | 08/03/2013 at 12:51
Vale a pena comprar o Kindle Fire fora do Brasil?? Vou conseguir comprar livros na Amazon brasileira?
Posted by: Adriana | 11/03/2013 at 19:22
Carlo o Kobo também permite a criação de notas e o destaque de trechos como o Kindle?
Posted by: Rafael | 17/03/2013 at 21:15
Sim, permite. Mas acho que o sitema do Kindle é um pouco melhor.
Posted by: Carlo Carrenho | 18/03/2013 at 16:07
Sim, vale, se você quiser um tablet com tela colorida que permite muito mais usos que apenas a leitura. Sim, você ponderá comprar livros no Brasil. Basta ter uma conta brasileira.
Posted by: Carlo Carrenho | 18/03/2013 at 16:08
Tenho algumas dúvidas e gostaria muito que me ajudassem..
1. Vale a pena pagar a difirença do kindle básico para o kindle paperwhite?
2. Se eu comprar um ebook na livraria saraiva, por exemplo, vou poder ler no meu kindle?
Posted by: Raissa | 27/03/2013 at 09:21
Carlo, o Kobo baixa livros de blogs??? Ou seja, livros gratuitos.
Posted by: Ju | 08/04/2013 at 19:17
Carlo, e quando a Apple, ou samsung criarem uma forma de obter os recursos de imagem para leitura em seus tablets?! os e-books sucumbiram!?
Posted by: John | 17/04/2013 at 13:58
John, acho que a tendência é o tablet superar o leitor dedicado na atividade de leitura, pois somente aos grande leitores ("heavy readers") fará sentido ter dois aparelhos. Quanto mais heavy readers em um mercado, maior o sucesso dos e-readers dedicados. [Mil perdões pela eterna demora!]
Posted by: Carlo Carrenho | 01/08/2013 at 13:28
Ju, você pode ler ePubs sem DRM ou com DRM da Adobe no Kobo. Ele não vai baixar diretamente dos blogs, mas você pode baixar e colocar no aparelho. [Mil perdões pela eterna demora!]
Posted by: Carlo Carrenho | 01/08/2013 at 13:29
Raissa,
1) É uma decisão pessoal. Para mim, a tela do paperwhite e o fato de ele ser touch compensam a diferença de preço.
2) Não, a plataforma da Amazon é fechada. Você só vai conseguir ler livros comprados na Amazon ou em formato .mobi sem DRM no Kindle.
[Mil perdões pela eterna demora!]
Posted by: Carlo Carrenho | 01/08/2013 at 13:31
Ola... Carlo por favor me esclareça uma duvida. O kobo le qualquer arquivo epub? Esse arquivo precisa ser original comprado em um site ou esses livros em epub do mercado livre são compatíveis com o kobo? Eu posso converter qualquer arquivo epub para o mobi com qualidade?
Posted by: andrei | 22/10/2013 at 16:59
O Kobo lê qualquer ePub sem DRM ou com DRM da Adobe. É fácil converter ePubs sem DRM para Mobi pelo software gratuito Calibre.
Posted by: Carlo Carrenho | 07/02/2014 at 15:38
Carlo, quero saber se eu baixar um E-pub da internet, consigo ler no Kindle facilmente? Ele tem algum sistema de conversão interno?
Posted by: Lucas Lima | 05/11/2014 at 08:56
O Kindle só lê arquivos .mobi. Você terá que converter o e-pub com algum software antes de passar ao Kindle. O Calibre é gratuito e funciona bem com e-pubs sem DRM.
Posted by: Carlo Carrenho | 18/06/2015 at 16:39
Sei que o post é antigo e provavelmente você já até saiba que o Calibre quebra, sim, DRM. Existem plugins para isso.
Posted by: Yolanda Maria Medina | 10/09/2015 at 17:49